Ritmos se desenvolvem nas composições das pinturas através da contraposição entre os componentes visuais e o plano de fundo, esta contraposição evidencia cada uma das partes, pois esses elementos visuais não existem sem que exista um plano de fundo, assim como o contrário também ocorre.
A composição como um todo representa a visão do Macrocosmo, e nisto cada elemento visual se torna representações da visão do Microcosmo, ambas as visões não estão separadas, mas sim relacionadas. O ritmo é um conceito que nasce da relação entre a escala Micro (que não existe sem a
visão de um todo), e a escala Macro (que não existe sem a visão das partes).
Na Pintura Realista os elementos visuais podem ser estabelecidos através do uso de valores tonais, cores, formas geométricas ou orgânicas, linhas e texturas, estes elementos quando se relacionam entre si e se contrapõem com o plano de fundo da composição, geram uma diversificação de ritmos visuais.
Para o espectador da obra a informação visual é apresentada simultaneamente de uma só vez, porém a ideia do tempo é construída através da leitura sucessiva dos elementos visuais apresentados. Dentre os diversos ritmos visuais é possível destacar três tipos distintos:
1 – Ritmo gerado através da repetição
Quando na pintura Realista os elementos visuais são inseridos de forma repetitiva, ocorre uma apresentação da informação visual caracterizada por uma ressonância temporal constante e regular. Através do ritmo gerado pela repetição os elementos visuais se apresentam semelhantes entre si,
possuindo em cada um deles as mesmas características visuais presentes em seu conjunto, tais como estruturas geométricas, valores tonais, cores, etc. Cada elemento visual possui uma mesma importância dentro da composição, e a disponibilidade destes elementos ressoa na obra a sensação
do tempo cadenciado.
Na obra do artista Pietro Perugio é apresentado uma composição simétrica, onde cada elemento visual se estrutura a partir de formas geométricas quadradas e retangulares.
O agrupamento destas formas geométricas reforça uma divisão da obra em duas partes, acima há um destaque para os elementos arquitetônicos e abaixo destaque para a figura humana.
Na composição, o ritmo gerado pela disposição dos três elementos arquitetônicos traz a ideia de um tempo cadenciado mais dinâmico. Isto ocorre devido aos elementos arquitetônicos estarem ordenados a partir da estrutura visual quadrada, possibilitando assim uma rápida leitura da informação.
Em contraposição, a leitura da informação visual referente às figuras humanas é mais lenta. Isto ocorre devido à existência de duas estruturas visuais retangulares que ordenam os dois grupos humanos, aqui a geometria do retângulo possui uma área mais extensa e contínua, e toda a
informação visual que é apresentada dentro destas estruturas exige um maior tempo de assimilação por parte do espectador da obra.
A pintura do artista americano Chuck Close demonstra uma abordagem diferenciada a respeito do uso da repetição como recurso para gerar ritmo, aqui o artista utiliza a repetição de formas geométricas que são ordenadas dentro de um diagrama composto por quadrados e retângulos inclinados, estruturando assim, elementos visuais formados por texturas que são semelhantes entre si e que se inter-relacionam.
Cada elemento visual na obra constitui uma visão da escala Micro, estes elementos são ordenados separadamente entre si, e quando há a união de todas as partes é constituída a escala Macro na composição da obra.
2 – Ritmo gerado através da Alternância
Na pintura Realista a alternância dos elementos visuais, ora mais proeminentes, ora mais sutis, expõe a contraposição entre estes elementos e os planos visuais, com isto há uma variedade rítmica gerada pela alternância das informações.
Esta alternância faz com que a informação visual seja caracterizada através de uma sensação de tempo dinâmico e irregular. O ritmo gerado através da alternância faz com que cada elemento visual possua uma importância própria e se diferencie de seus pares.
Na obra acima o ritmo visual é gerado pela alternância entre os valores tonais, não há aqui uma progressão do mais claro para o mais escuro e vise versa, aqui os valores tonais têm a função de reforçar a separação entre os planos visuais.
Com isto o ritmo gerado pela alternância é separado em três momentos, e os valores tonais se estabelecem a partir da seguinte ordem:
(1) valor tonal claro – (2) valor tonal escuro – (3) valor tonal médio
No momento em que o primeiro plano de valor tonal claro se contrapõe com o segundo plano de valor tonal escuro é estabelecida uma oposição entre os elementos visuais, com isto a cena potencializa uma maior dramaticidade. Aqui há uma intenção de evidenciar o elemento visual em
primeiro plano, tornando-o desta maneira, o objeto de maior importância na obra.
A transição do segundo plano de valor tonal escuro, com o terceiro plano de valor tonal médio, demonstra uma intenção oposta que é a de estabelecer uma transição suave entre os planos visuais. Dentro do terceiro plano há pinceladas executadas através da técnica da veladura, isto faz com que
os elementos arquitetônicos se desfaçam gradativamente com o plano de fundo.
Esta abstração da informação visual presente no plano de fundo da obra tem a intenção de evidenciar uma sutileza, que se opõe à dramaticidade presente no primeiro plano visual.
3 – Ritmo gerado através da progressão
O ritmo que é gerado através da progressão surge quando os elementos visuais são ordenados de forma sucessiva e gradativa dentro da composição da obra.
Neste tipo de ritmo a progressão pode se caracterizar através de algum movimento direcionado dos elementos na composição, ou através do aumento de algum aspecto visual da informação. O ritmo gerado através da progressão gera uma ressonância de tempo que se apresenta de forma dinâmica e regular.
Dentro da composição da obra cada elemento visual pode se posicionar mais acima ou mais abaixo, mais afastado ou mais inclinado, maior ou menor em relação ao elemento visual que fora ordenado anteriormente.
Na pintura de Pieter Bruegel, é possível observar o uso de linhas verticais e diagonais que estrutura a posição das figuras humanas. O ritmo gerado através da progressão é estabelecido na obra através da sensação de movimento, na composição cada uma das figuras humanas se apresenta gradativamente mais inclinada conforme ocorre a leitura da informação visual da esquerda para a direita.
Na obra o movimento é dividido em dois grupos humanos, com isto há a intenção do artista em criar uma composição dinâmica que se opõe a regularidade do ritmo estabelecido, onde a leitura visual se alterna em
dois momentos opostos, um mais longo (A) e outro mais curto (B).
Na obra do pintor americano Edward Hopper a composição da obra é dividida em duas partes: No lado esquerdo há três elementos visuais de cores laranja e vermelho, que são organizados dentro de um espaço mais fechado e ordenados a partir da perspectiva linear (A). No lado direito da composição os elementos visuais possuem cores quentes e se apresentam dentro de um campo visual aberto (B).
A esquerda da composição há uma progressão rítmica, aqui as cores laranja e vermelho se repetem e aumentam gradativamente de tamanho, e com isto há uma leitura visual de um movimento vertical
feito de baixo para cima.
No conjunto da obra a presença destacada das cores quentes, tanto no lado direito quanto no lado esquerdo da composição, traz uma sensação de equilíbrio, aqui as sensações visuais são construídas
conforme o olhar do espectador percorre a composição da obra.
Entre o lado esquerdo e direito da obra há um movimento horizontal que é gerado pela disponibilidade das informações visuais ao longo da composição. O movimento quando iniciado no lado esquerdo da composição a partir da progressão rítmica, acaba se concluído dentro de uma grande área de cores quentes no lado direito da obra.
Com este movimento de transição da esquerda para direita é gerado uma sensação da cor em expansão. Quando há o movimento contrário da leitura visual da direita para a esquerda, ocorre a sensação contrária de uma cor em retração:
1, 2, 3 – 4 = Expansão da cor / 4 – 3, 2, 1 = Retração da cor
BARROS, Lilian Ried Miller. “A cor no processo criativo”. São Paulo. Editora Senac, 2009.
CLOSE, Chuck. “Arne”. Disponível em: <http://chuckclose.com/work202.html>
HEMENWAY, Priya. “O Código Secreto”. São Paulo. Editora TASCHEN, 2019.
IMBROISI, Margaret H.; MARTINS, Simone R. História das Artes, 2020. Renascimento. Disponível em: < https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-renascentista/renascimento/>
LYON, Howard. A Baroque Composition. Disponível em: http://www.muddycolors.com/2013/12/a-baroque-composition/
MCLNTOSH, Matthew A. Brewminate a Bold Blend of news & Ideas, What is Art. Disponível em: https://brewminate.com/art-history-thinking-and-talking-about-art/
SHUSTERMAN, Richad. “Body Consciousness and Performance: Somaesthetics East and West”. EUA. The Journal of Aesthetics and Art Criticism. 2009.
WERNER, João. Aula de Arte, Ritmo na Comunicação Visual. Disponível em: https://www.auladearte.com.br/lingg_visual/ritmo.htm
Veja também:
O post O Ritmo Visual na Pintura Realista apareceu primeiro em arteref.
O Ritmo Visual na Pintura Realista Publicado primeiro em https://arteref.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário