Texto por: Bruna Araújo
Marina Abramović é uma artista sérvia de 73 anos conhecida principalmente por suas performances intensas, fortes e, em alguns casos, chocantes. Abramović começou sua carreira nos anos 70 e é extremamente prolífica. O seu próprio corpo é o instrumento de sua expressão artística e para executá-la, ela o leva até os seus limites mais sombrios e violentos. Silêncio e resistência são marcas do trabalho da artista e estão presentes na maioria das suas performances e trabalhos.
Uma das obras mais conhecidas de Abramović sem nenhuma dúvida é a “The Artist Is Present”, performance realizada em 2010 durante uma retrospectiva da artista no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Na performance, há uma simples mesa com duas cadeiras em lados opostos. Em um lado, senta Marina e no outro, um visitante. Palavras são proibidas. Há apenas o esmagador peso do silêncio e do tempo. A performance durou três meses e aproximadamente 700 horas.
A artista permanecia sentada desde a abertura do museu até o fechamento. Ali, ela era um objeto imóvel à espera do complemento que traria significado para a performance, o outro. Milhares de pessoas se acotovelaram em filas para sentar por alguns instantes diante da artista, sob inúmeras câmeras e flashes. “The Artist Is Presente” foi mais do que uma obra artística, se tornou um verdadeiro espetáculo. A performance traz uma estranha e indecifrável dialética entre uma conexão profundamente íntima sem nenhuma privacidade.
Abramović chegou a dizer que a opressão das multidões e das lentes foram benéficas para a experiência, pois sem ter para onde fugir, a pessoa que sentava diante dela era forçada a se voltar para dentro de si mesma. “Havia tanta dor e solidão. Acontecem tantas coisas incríveis quando olhamos nos olhos de alguém, porque ao cruzar com um completo estranho, tudo acontece”, pontuou a artista. A conexão com o outro, com o desconhecido, e a força do silêncio são um caminho para se chegar a si mesmo.
Estar exposta é um risco e Abramović foi vítima da própria liberdade do ambiente não controlado que escolheu para a sua performance. Diante dos seus olhos, em um dos vídeos mais virais relacionados à arte, surge o seu antigo parceiro no amor e no trabalho, o artista e fotógrafo alemão Ulay, falecido em março de 2020. Eles viveram um relacionamento intenso por 12 anos e não se viam há mais de 20. Após o término, em 1988, os artistas se desentenderam e Ulay chegou a processar Abramović por uma suposta quebra de contrato.
Em sua autobiografia, a artista aponta que o relacionamento entra ela e Ulay chegou a um colapso pela vaidade do fotógrafo, que se incomodava em ver que ela tinha um compromisso mais profundo, verdadeiro e intenso com a arte do que ele. A atenção que Abramović passou a receber da crítica especializada e da mídia também não colaborou e o rompimento foi inevitável. Os mais de cinco anos vivendo em uma van percorrendo a Europa ficaram no passado. Artistas de alma, eles realizaram uma última e simbólica performance.
Tomando como ponto de partida as extremidades da Grande Muralha da China, os artistas fizeram uma caminhada solitária de três meses para se encontrar no centro da muralha. Naquele local eles se despediram, supostamente, para sempre. Esse deveria ser o ponto final na história entre os dois, mas após toda a mágoa, ressentimento e disputa, no centro do MoMA, Abramović estende as mãos para Ulay e por um segundo, tudo parece perdoado e o passado, redimido. Completa e ressignificada, a artista está e é presente, assim como a duplicidade verbo to be.
Bruna Araújo é jornalista, pesquisadora e pós-graduanda em História da Arte. Tem experiência de mais de sete anos com jornalismo ambiental, cultural e econômico.
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